Janeiro de 2006
Escrito por: Gusttavo de Assis
Foi nessa
noite que tudo voltou a ser como era antes.
Subitamente senti um arrepio subindo
por minhas entranhas. Eu estava sozinha em casa, ouvindo o barulho da água da
chuva que caia pelo telhado e em seguida batia nas calhas, fazendo um barulho
desconfortável aos meus ouvidos e me deixando mais afobada. Há duas horas eu
não tinha nenhuma informação dos meus pais que havia ido até o Aeroporto de
Guarulhos pegar minha irmã mais velha que chegava hoje de Paris. Os raios,
relâmpagos e trovoadas me assustavam, eu não sei explicar, nos filmes até que
são interessantes, mas na realidade é assustador.
Verônica, nossa domestica, não
estava em casa nesta noite tempestuosa que pairava sobre São Paulo, mamãe tinha
lhe dado o dia de folga para assim resolver alguns problemas de sua família.
Deitei-me em minha cama e olhei para o teto fixamente, as luzes da casa estavam
todas apagadas, o escuro me reconfortava em momentos de aflição como esse.
Coloquei os fones no ouvido e comecei a ouvir algumas músicas do 3doors down.
Ultimamente eu estava me sentindo infeliz, para quem não me conhece muito bem
ou não convive comigo, pensam que estou feliz pelas coisas que estão me
acontecendo. Não conseguia me sentir cem por cento feliz, faltava alguma coisa
que eu não sabia o que era. E, sinceramente eu penso que nenhum ser humano
possa ser completamente feliz, é até mesmo impossível ser totalmente feliz.
Sentia vontade de gritar, chorar e colocar essa dor e tristeza que me abraçara
de repente, para fora.
Lágrimas rolaram dos meus olhos.
Não entendia o motivo de tanta
tristeza assim de repente. Acho que era saudade. Saudade de Bárbara que há
quatro anos não a via, ela era minha melhor amiga, era a pessoa que eu mais
confiava com quem eu partilhava todos os meus segredos, além de ser uma boa
irmã era uma ótima conselheira. Certa vez, enquanto nos banhávamos na piscina
eu lhe perguntei:
- Bárbara, acha que eu serei melhor
que você como jornalista? – questionei meio envergonhada.
- Não! – ela riu. – Sabe o que eu
acho Julia? Que no seu trabalho você não deve se importar se vai ser ou não
melhor que alguém, você tem de ser você mesma, mostrar a que veio. Cada um tem
o seu espaço e ninguém é melhor que ninguém. Todos somos iguais.
Eu estava dispersa. A música que
tocava nos fones me fez viajar em lembranças. Meus olhos marejaram e mais
lágrimas caíram por eles quando a porta de madeira de meu quarto se abrira
repentinamente. Não tinha ouvido o barulho do carro dos meus pais e nem os
passos subindo pela escada. Levantei-me num sobressalto da cama e corri até
Bárbara para um abraço longo e demorado. Um abraço de irmãs. Mais lágrimas
escorreram e pude perceber que ela também chorava.
Era
o recomeço de uma grande amizade.
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