segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Conto: Janeiro de 2006


Janeiro de 2006
Escrito por: Gusttavo de Assis

Foi nessa noite que tudo voltou a ser como era antes.
            Subitamente senti um arrepio subindo por minhas entranhas. Eu estava sozinha em casa, ouvindo o barulho da água da chuva que caia pelo telhado e em seguida batia nas calhas, fazendo um barulho desconfortável aos meus ouvidos e me deixando mais afobada. Há duas horas eu não tinha nenhuma informação dos meus pais que havia ido até o Aeroporto de Guarulhos pegar minha irmã mais velha que chegava hoje de Paris. Os raios, relâmpagos e trovoadas me assustavam, eu não sei explicar, nos filmes até que são interessantes, mas na realidade é assustador.
            Verônica, nossa domestica, não estava em casa nesta noite tempestuosa que pairava sobre São Paulo, mamãe tinha lhe dado o dia de folga para assim resolver alguns problemas de sua família. Deitei-me em minha cama e olhei para o teto fixamente, as luzes da casa estavam todas apagadas, o escuro me reconfortava em momentos de aflição como esse. Coloquei os fones no ouvido e comecei a ouvir algumas músicas do 3doors down. Ultimamente eu estava me sentindo infeliz, para quem não me conhece muito bem ou não convive comigo, pensam que estou feliz pelas coisas que estão me acontecendo. Não conseguia me sentir cem por cento feliz, faltava alguma coisa que eu não sabia o que era. E, sinceramente eu penso que nenhum ser humano possa ser completamente feliz, é até mesmo impossível ser totalmente feliz. Sentia vontade de gritar, chorar e colocar essa dor e tristeza que me abraçara de repente, para fora.
            Lágrimas rolaram dos meus olhos.
         Não entendia o motivo de tanta tristeza assim de repente. Acho que era saudade. Saudade de Bárbara que há quatro anos não a via, ela era minha melhor amiga, era a pessoa que eu mais confiava com quem eu partilhava todos os meus segredos, além de ser uma boa irmã era uma ótima conselheira. Certa vez, enquanto nos banhávamos na piscina eu lhe perguntei:
            - Bárbara, acha que eu serei melhor que você como jornalista? – questionei meio envergonhada.
           - Não! – ela riu. – Sabe o que eu acho Julia? Que no seu trabalho você não deve se importar se vai ser ou não melhor que alguém, você tem de ser você mesma, mostrar a que veio. Cada um tem o seu espaço e ninguém é melhor que ninguém. Todos somos iguais.
            Eu estava dispersa. A música que tocava nos fones me fez viajar em lembranças. Meus olhos marejaram e mais lágrimas caíram por eles quando a porta de madeira de meu quarto se abrira repentinamente. Não tinha ouvido o barulho do carro dos meus pais e nem os passos subindo pela escada. Levantei-me num sobressalto da cama e corri até Bárbara para um abraço longo e demorado. Um abraço de irmãs. Mais lágrimas escorreram e pude perceber que ela também chorava.
Era o recomeço de uma grande amizade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário