sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Um Último Adeus


Seus cabelos estavam ao vento e a brisa leve lhe trazia o perfume das flores da campina lá embaixo. Às sombras surgiam as suas costas conforme o sol desaparecia no horizonte do qual ela estava bem perto. Nicolas demoraria a chegar, ela sabia. Podia ver através de turvas lembranças o quão era cansativo subir a montanha, mas agora ela não era mais como ele.
            Abaixo da montanha a cidade se acendia aos poucos, e pequenas fontes de luz se uniam pouco a pouco até estar completamente iluminada. O sol se pôs, naquele instante. Nicolas de fato demorava, mas tempo para ela já não era mais um problema, ela teria todo o tempo do mundo e até mais que isso.
            Ela já podia sentir seu cheiro e as folhas se quebrando aos seus pés, ouvia sua respiração ofegante, e via a luz da lanterna cortar a escuridão. Faltavam muitos metros ainda. “Você consegue meu amor, falta pouco”, sussurrou em sua mente esperando que ele pudesse ouvi-la.
            Ele estava curvado quando alcançara o destino de sua jornada. Os olhos brilharam melancólicos, ao ver ao longe sua amada tão linda e pálida como jamais estivera, marejados de tristeza ou talvez do calor que abrangia o ar, e que ardia. Os cabelos estavam curtos e úmidos, os sapatos sujos de terra, os passos determinados.
            - Obrigada por vir. – ela disse quando este se aproximou.
            - Por que fez isso? – ele indagou irritado, mas sem alterar o tom de voz.
            Ela se aproximou mais dele.
            - Eu não escolhi esse caminho... – seus olhos se encontraram e se nivelaram com os de Nicolas. – ele me escolheu.
            Ele desviou o olhar e se pôs a olhar para a noite fria e escura.
            - E esse caminho que te escolheu, a fez sumir da minha vida por todas essas semanas? Se o que dizia sentir por mim era amor, então... – suas palavras penderam no ar.
            - Não. Eu não mentia.
            Catarina esperava ser recebida com abraços e sorrisos, por um momento esquecera-se de todas aquelas semanas e das cobranças que poderiam surgir. Ao pensar nele, não havia mais nada que importasse, não havia os cacos que restaram do passado ou a solidão que viria no futuro. Eram somente os dois... E as pendências entre ambos – é claro.
            - Mas eu vou ter de ir. – completou. – Para o bem de todos.
            - Para onde? – questionou ele – E por quê? Eu ainda me lembro de você dizendo que tudo o que precisava estava aqui, era junto de mim.
            - E ainda é, porém as circunstancias nos levam a abrir mão de certas coisas, de você.
            - Que se dane essas circunstancias. – ele disse já impaciente.
            Pausa.
            - Eu preciso de você aqui. – se aproximou acalentando suas mãos nas dela. E eram mãos tão gélidas, mas para ele não fazia diferença alguma. Um detalhe sem a mínima importância. Ela estava ali, o seu mundo retornara. E isso era o que importava.
            Ela se aproximou, sentindo as veias dele palpitando sobre a pele fina e frágil. E repeliu um impulso mortal... Concentrou-se em seus lábios, levemente avermelhados e molhados. As mãos dele deslizaram por sua nuca, e ela se arrepiou já não se lembrava mais o que era isso, reagir ao sabor de um toque, mas com ele era diferente, desde o início sempre fora.
            Seus lábios se aproximaram dos de Nicolas e ele não resistiu à tentação que o momento lhe proporcionava. A irritação se dissipou por seu corpo e aos poucos se tornou um desejo incontrolável de tê-la em seus braços. Novamente. Catarina e Nicolas se envolveram em um só. Como peças de um quebra-cabeça, peças que se completavam. Catarina passou os dedos pelo cabelo negro, memorizando cada detalhe de seu amado, pois sabia que não o veria nunca mais. Os olhos azuis que neste instante ela não via, as curvas dos braços e do abdômen definido. Da pele suave e quente. O calor naquele momento ardia a cada toque dos lábios.
            E de repente o frio havia consumido tudo. Nicolas abrira os olhos e em sua frente nada mais encontrou, olhou para os lados, mas só havia o vácuo do adeus que ela deixara cravado em suas lembranças.
            “Eu sempre lhe amarei, não importa o que venha a acontecer...”, ela sussurrou em sua mente.
            Ele sabia... Ela jamais voltaria. 

 Escrito por: A.C.Patrick & Gusttavo de Assis

Um comentário:

  1. Foi muito bom essa parceria que fizemos! Gusttavo de Assis, você se tornou um grande amigo.

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