sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Aqui Jaz O Nosso Amor


Galhos quebravam-se sob seus pés determinados. Os olhos da menina estavam inchados de tanto chorar e os cabelos negros desajeitados, o que a deixava com as feições de uma garota que andara perturbada. E isso, de fato, refletia perfeitamente o que se passava por dentro dela. Avistou o céu, e parou por um instante para admirá-lo, apesar de não enxergar nele um motivo para sorrir. Ainda.
            O sol se escondia por trás do horizonte deixando ao seu rastro vultos de laranja, amarelo, vermelho e rosa. A brisa do outono formava pequenos redemoinhos nas arvores e carregava consigo as folhas secas das mesmas, ela as convidava para um baile no ar. Flutuavam no céu e dançavam até, enfim, atingir o chão, mas a dança permaneceria em um ciclo inacabável até que a brisa cessasse.
            A campina estava coberta por um tapete de folhas secas. Ninguém imaginaria que ali, na primavera, as flores eram das mais majestosas, o verde invadia não só a visão como a alma, cobria tudo com placidez e com a fragrância das arvores frescas.
             Seu caminhar agora era sereno. Ela respirava com alívio, era quase como se o ar da campina lhe purificasse os pulmões. Tinha apertado ao peito o seu último diário, aquele que retratava da primeira à última pagina seu primeiro amor. Sem que percebesse, ela escrevera um livro dedicado a ele, ao garoto que pouco a pouco se tornara o núcleo do seu pequenino universo.
            Sentou-se ao centro da campina, onde cavara um buraco mais cedo. Fitou-a. Lembrava-se nitidamente da primeira ocasião em que estivera ali. Os olhos dele não abandonaram os dela por um segundo sequer, a paisagem os cobria e o amor os consumia. Os traços do rosto dele fizeram-na se perder, afogada em seus beijos e sufocada aos seus carinhos. Era tudo perfeito demais para ser real, e hoje ela duvidava se tudo acontecera mesmo. A resposta estava em seu diário. Cada precioso dia registrado em palavras e imagens. E o amor, depois que o romance acabou, cravava estacas em seu peito todos os dias. Mas isto também chegava ao fim.
            A garota olhou o diário pela última vez, folheou as páginas sentindo o perfume dele. Sim, ela havia coberto seu diário com o perfume do amado. Uma derradeira lágrima fluiu por seu rosto, deslizando pelo nariz e morrendo em seus lábios.
            Palavras se formavam em seu cérebro, mas algo não a permitia dizê-las em voz alta. Depositou o diário dentro do buraco, o cobriu com terra e folhas, não se importando em sujar suas delicadas mãos. Ninguém jamais o encontraria, com o tempo as flores cresceriam e nem mesmo ela se recordaria onde o havia sepultado.
            - Aqui jaz o nosso amor – disse ela – Aqui ele nasceu e aqui o sepulto.
             Despediu-se assim levando as mãos sujas aos lábios e mandando-lhe um beijo.
            Ergueu-se do chão se colocando em pé. Seu coração partido sussurrou um adeus. E ela virou as costas. Fez o mesmo caminho da vinda, e partia em direção ao seu futuro, o passado ficaria enterrado.
            As folhas já não dançavam mais. A lua a encarava abatida, parecia se comover com seu drama. Uma gota de água atingiu a garota na testa. Ela sorriu. A lua também chorava, pensou. Mas na verdade, chovia.

Escrito por: A.C.Patrick 

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